Dia da Mulher Negra evidencia escassez da representatividade

O dia 25 de julho é, desde 1992, reconhecido como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. A data nasceu em Santo Domingo, na República Dominicana, durante o primeiro 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas. No Brasil, a lei nº 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, decretou a data como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Apesar de terem se passado três décadas — no caso do Brasil, oito anos — do marco no calendário da latino-americano, a data ainda não é de conhecimento geral da população. Juliana Oliveira, fundadora e CEO da Oliver Press, comenta que o Brasil tem apagamento histórico e por isso a população não se conhece, não se reconhece e tampouco sabe a sua história. Porém, para ela, como mulher negra e dona de uma empresa de comunicação, colocar esse momento em pauta é uma de suas missões.

“Vivemos um processo de reconhecer cada vez mais a nossa história para poder valorizá-la. Atualmente, temos um percentual, ainda que muito pequeno, de mulheres negras na liderança. Esse mês de julho é muito importante. Trabalho essa pauta com todas as minhas clientes que são mulheres negras empreendedoras. Temos esse olhar de provocar a imprensa para essa data tão importante. Sou uma mulher negra e preciso cada vez mais trazer as nossas mulheres reconhecendo o dia 25 de julho”, afirma.

A questão da abordagem mais inclusiva vai além da importância do conhecimento geral e passa diretamente pelos negócios realizados na indústria da comunicação. Profissionais apontam que a falta de diversidade nos times publicitários afeta diretamente a criatividade e a propagação de estereótipos nos trabalhos entregues.

“Sou jornalista e cansei de fazer matérias sobre o quanto o ambiente da publicidade era excludente e estereotipado. Isso diz muito sobre o meu desafio e a minha missão de estar aqui. Como é que eu mudo isso por de dentro? Como é que posso ocupar de uma posição na qual posso trabalhar de outra forma e conseguir gerar essa diversidade? Ainda é bastante desafiador”, conta Rejane Romano, diretora de comunicação da DPZ&T. Parte do board da agência desde setembro de 2021, a profissional conta que a equipe tem 50% de composição feminina. Ela é, porém, uma das únicas mulheres pretas a exercer esse cargo no mercado brasileiro.

No final de 2021, o Clube de Criação elegeu a primeira diretoria 100% negra. À frente da entidade está a presidenta Joana Mendes, que é a primeira pessoa negra a ocupar o cargo. “É muito bom ser parte da Chapa Preta e ser presidenta do Clube de Criação, ser a primeira mulher e pessoa negra neste cargo. Mas, ao mesmo tempo, é bem triste, porque o Clube existe desde 1975 e sermos os primeiros é o reflexo do nosso mercado. Eu ser presidente foi um fator positivo, mostra o interesse de uma tentativa de mudança do setor, mas é complexo”, comenta a publicitária.

Dados e ações

No mundo, grandes holdings de comunicação vem abrindo seus dados e compromissos para a criação de um ambiente profissionais mais diverso e igualitário. Deh Bastos, diretora de criação da Publicis Brasil, diz que os grandes grupos estão se envolvendo no problema, mas indústria é mais ampla. “Enquanto representação, por mais que a gente tenha um número crescente, ainda somos um número muito pequeno. Estamos em um dos maiores grupos de comunicação do mundo, o Publicis Groupe, então aqui começamos a ter uns avanços e a ter números significativos, mas fico pensando nas agências menores”, diz.

A Publicis estabeleceu nos últimos anos projetos de inclusão como o Entre, que está em sua quarta edição e tem o propósito de capacitar, desenvolver e incluir nas agências profissionais criativas. No programa, 85% das vagas são dedicadas às pessoas que se identifiquem pelo gênero feminino e que se autodeclaram negras.