Saiba por que 2021 tem tudo para ser o ano do 5G no Brasil
Parece que foi ontem que a revolução das telecomunicações começou. Em menos de 25 anos, conseguimos fazer com que houvesse mais de uma linha celular por brasileiro, tivemos 3G, estamos vivenciando o 4G, e agora é mais do que chegada a hora de pensarmos no 5G. Sim, a tecnologia que promete uma velocidade ultra rápida para a internet móvel deve chegar ao país em 2021 – ainda que em uma escala mais modesta na comparação com outros países, e com bastante atraso. Finalmente poderemos passar a experimentar parte do que o melhor da conectividade tem a oferecer – e o Brasil começará a se juntar à vanguarda dos países na liderança da acelerada transformação digital vivenciada em 2020 e que somente se intensificará.
Diversos fatores levaram o Brasil a esse atraso. O primeiro deles é a demora na revisão dos marcos regulatórios ainda provenientes da privatização do sistema de telefonia do país (fim dos anos 1990). Também é preciso levar em conta as mudanças ocorridas no papel da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) ao longo dos últimos anos (e governos) por conta das transições políticas em Brasília, aliadas à polarização em torno do 5G em todo o mundo, que vincula os delicados aspectos técnicos do tema com questões mais amplas de políticas externas nacionais. Sem falar nas indefinições técnicas e estratégicas do poder público, da inviabilidade financeira das primeiras soluções propostas e do baixo estímulo à participação de empresas interessadas nas simulações das primeiras condições do leilão de concessões para operação. Ah, claro, e teve também a pandemia de covid-19 em 2020, para adicionar a derradeira cereja no bolo.
As dificuldades, como se vê, são imensas, mas os desafios que surgirão caso não se avance com o 5G no Brasil certamente serão maiores. Chegamos a um momento em que essa decisão não pode mais ser adiada. Hoje, é condição fundamental de competitividade econômica. Países que não acelerarem drasticamente seus esforços nesse sentido terão uma desvantagem competitiva em relação às nações mais avançadas no tema, principalmente na Ásia, EUA e na Europa. Além disso, é preciso resolver em 2021 porque questões dessa magnitude tradicionalmente não costumam avançar em anos de eleições majoritárias no Brasil (como 2022) – e deixar para 2023 será muito tarde para estabelecer as premissas técnicas, regulatórias e comerciais que uma revolução desse porte exige. Inclusive, os primeiros testes do 6G já começam a acontecer enquanto escrevo este texto.
Observam-se no mundo diferentes estágios de progresso do 5G. A adoção, de forma geral, se iniciou em um ritmo lento, que vem se intensificando rapidamente conforme as primeiras redes de uso comercial vão sendo estabelecidas. A Coreia do Sul pode ser considerada um ótimo modelo de referência para uma melhor compreensão do que o 5G transformará em nossas vidas, já que atualmente 10 milhões de pessoas possuem smartphones habilitados para a tecnologia.
Da Coreia, vejo pelo menos duas importantes lições nesse início de 5G no Brasil:
1) a necessidade de subsidiar/fomentar uma aceleração mais rápida da quantidade d pessoas com aparelhos habilitados para uso no 5G em mãos;
2) revisão das condições regulatórias exigidas para que se estabeleça todo o ecossistema técnico e comercial que viabilizará a existência destas novas redes, incluindo até mesmo a necessidade de maior capilaridade e número de antenas nas cidades. São condições essenciais para que o Brasil finalmente dê seus primeiros passos para entrar no maravilhoso mundo do 5G.
Quando esse futuro chegar (e ele está chegando), haverá uma enorme transformação na sociedade como um todo e nos negócios. Antevejo aumento de desemprego em atividades com menor nível de especialização técnica e capacitação, com impactos econômicos na sociedade em esferas menos favorecidas. Empresas que ainda têm formatos de gestão baseados em modelos anteriores, se tornarão extremamente ineficientes para fazer negócios em uma realidade mais instantânea e personalizada. As transformações serão profundas, e o “analfabetismo digital” poderá cobrar um pesado encargo social de quem não se ajustar prontamente. Mas ainda há alguns (poucos) anos para que a sociedade se adapte, e torço para que este cenário potencialmente sombrio não se concretize.
Por outro lado, a pandemia de Covid-19 causou o efeito colateral de dar o empurrão necessário para que as empresas que ainda não entendiam (em pleno 2020) que precisavam ter presença digital relevante aprendessem na prática da forma mais dolorosa possível. Minha recomendação para qualquer organização, portanto, é seguir acelerando seus processos de transformação digital, além de se informar e se preparar para antecipar projetos de mudanças em seus negócios com base no que as novas redes 5G poderão proporcionar. Por exemplo, companhias vinculadas ao entretenimento físico poderão se tornar líderes em experiências virtuais e altamente personalizadas, descobrindo novos formatos de negócio e mercados a explorar. No agronegócio, sensores de monitoramento trarão consigo uma novíssima revolução agrícola, que espero ajude a erradicar a fome em nosso planeta. E, setor por setor, as oportunidades de aplicação do 5G são infinitas.
Os efeitos da conectividade (seja ela lenta, rápida ou inexistente) afetam cada vez mais o dia a dia das pessoas em todas as esferas da existência humana: relações sociais, entretenimento, afazeres domésticos, hábitos familiares, negócios e muito mais. Praticamente nenhuma empresa, nem mesmo MEI (microempreendedores individuais), é independente de algum tipo de conexão para realizar suas transações. Assim, um aumento de velocidade (que pode chegar a ser cem, até mil vezes mais rápida do que navegamos com o 3G e 4G) certamente vai revolucionar todas as dimensões da vida dos brasileiros.
Pessoas, animais, organizações, objetos… tudo aquilo que puder ser conectado, será conectado. E essa fascinante jornada se iniciará em breve. É preciso estar preparado para 2021: o ano do 5G no Brasil. Por: Fernando Moulin – https://www.linkedin.com/in/fernandomoulin/